Três cobranças ao governo
Hoje é um bom dia para cobrar o governo. Afinal, o discurso na ONU foi considerado quase perfeito até por seus adversários. Foi, assim como a cerimônia da posse, uma declaração de intenções espetacular, assim como um ato político em si. Por isso mesmo, e também porque o próprio Lula pediu expressamente para ser cobrado, antes mesmo da posse, quero cobrar duas coisas — na verdade três — que considero cruciais não só para o país, mas para que a esquerda permaneça no poder:
- Do Ministério da Educação:
1- um plano para recuperação das crianças e adolescentes que (não) estudaram durante a pandemia. Inúmeros estudos apontam que, na prática, quase ninguém aprendeu nada neste período, e quando digo nada, é nada mesmo: da alfabetização à equação de segundo grau, a maioria absoluta dos estudantes da rede pública não aprendeu. Isto é um efeito dominó nas séries seguintes e vai (de)formar uma geração inteira. É urgente consultar os profissionais de educação e propor a estados e municípios (porque o dano maior foi no fundamental e médio) um projeto para permitir a formação efetiva destas pessoas.
E 2- a revogação da Reforma do Ensino Médio. Foi anunciado um grupo de estudo para avaliar, já estamos em setembro e as escolas já começam a planejar o ano que vem. É urgente livrar a garotada da maluquice que foi tirar matérias essenciais como português para colocar itinerários que às vezes não passavam de grandes bobagens como “RPG” e Brigadeiro caseiro”. Some-se isso aos efeitos da pandemia veja-se o tamanho do estrago. É urgente cancelar isso, até para viabilizar o plano cobrado acima.
E do Ministério da Justiça:
Um plano efetivo de combate à violência urbana e rural, as milícias e crime organizado e de reorganização das polícias. O Flávio Dino está tendo um comportamento exemplar no combate aos fascistas que tentaram um golpe de Estado, e isto é fundamental. Mas a grande maioria da população vive num outro lugar, onde o problema principal da justiça é outro. O caso de Salvador é exemplar: é hoje provavelmente a capital mais violenta do país, e o governo estadual do PT está importando caveirões do Rio de Janeiro, como se este formato de combate ao crime tivesse dado certo por aqui. Afora isso, as chacinas e mortes de pessoas inocentes causadas pela polícia se multiplicam. É igualmente urgente o ministério propor uma ação conjunta e coordenada e um realinhamento muito firme das Polícias — militares, a Rodoviária Federal, todas.
Estes são temas muito caros à população, muito mais que outros importantíssimos como a transição energética, a posição do Brasil frente à guerra da Ucrânia ou mesmo a nomeação de uma ministra negra para o STF. A economia vai bem, o emprego está em ascensão, a inflação em queda, os programas sociais foram retomados. Tudo isso é ótimo. Mas estes pontos acima podem fazer a diferença entre formar mais fascistas ou impedir que se formem, seja dando-lhes uma formação mínima ou impedindo que se revoltem a ponto de acreditarem que precisam de uma arma para se defender porque o Estado não o faz. São bolas quicando na área, em alguns casos meio sem ângulo, mas o governo precisa chutar. Porque, se não o fizer, outros o farão, com consequências que já vimos.