Sobre viagens a Paris
Desde que me entendo como um bicho político e voto, tento encontrar uma esquerda viável que não seja monopolizada por um partido. E posso provar.
- Em 1989, meu primeiro voto foi para… Mário Covas, PSDB que sim, era um partido de centro esquerda. (Anunciei a campanha toda que votaria no Roberto Freire, no PCB, mas mudei na antevéspera, e agradeço ao Covas duplamente por isso). No segundo, Lula, naturalmente.
- Em 1994 votei em Fernando Henrique Cardoso, como todo mundo. O PT se posicionou contra o Plano Real, o que era e ainda é um absurdo. O que se fez do Plano depois foi politicagem barata, mas o Plano acabou com a hiperinflação, ponto.
- Em 1998 votei em Ciro Gomes (que andava no PPS do Roberto Freire, mas enfim), porque FHC comprou do Congresso uma reeleição que afirmara ser contra e porque a economia era mantida por aparelhos — no caso, juros de mais de 40%. E não votei em Lula porque sua candidatura me pareceu burocrática, mais para manter o partido unido que para ganhar mesmo. Nestas duas eleições não houve segundo turno.
- Em 2002 e 2006, votei em Lula nos dois turnos. A palhaçada do julgamento do Mensalão ainda reforçou minha convicção, e o segundo mandato de Lula, onde a redistribuição de renda chegou a seu ápice, recompensou estes votos.
- Em 2010, votei em Marina Silva no primeiro turno, considerando que o ciclo de crescimento do PT precisava de um reajuste na direção da sustentabilidade, da ecologia como base de um projeto de país particular e inovador. No segundo turno, Dilma, evidentemente, embora Marina tenha se mantido neutra (ela apoiaria Aécio em 2104).
- Em 2014, Dilma nos dois turnos, contra o golpe que já se avizinhava.
- E em 2018, Ciro Gomes novamente no primeiro turno, considerando ele e Haddad excelentes candidatos, mas com o projeto de Ciro me ganhando por pontos. No segundo, Haddad contra o fascismo e pelo iluminismo.
Como se pode ver, estou muito longe de ser um petista ou lulista. Ao contrário, sempre procurei opções ao PT, mas não tive nenhum problema em voltar a ele sempre que necessário. Não me arrependo de nenhum destes votos, mesmo que desaprove diversas atitudes posteriores de vários destes personagens e tenha também críticas aos vencedores — naqueles momentos eram a minha melhor conclusão. Considero a esquerda uma gama ampla que permite divergências e disputas internas, desde que feitas com a lealdade de quem reconhece no outro a convicção expressa pelo Mujica: alguém para quem a solidariedade é superior à competição. E fazer isso dentro de uma competição é a prova dos nove.
Isso tudo é só para repetir o que eu digo sempre: apoio e voto em qualquer um que possa derrotar o fascismo e quero mais são opções de caminhos, quero pluralidade, quero diversidade, inclusive acenando à direita democrata. Mas quem se recusa a apoiar alguém no campo da esquerda contra o fascismo não quer meu voto. Lamento por quem procura adversários ao lado em vez de à frente e acha que se apresenta como alternativa assim. Não são e não vou com estes. Dou preferência absoluta a quem dá prioridade a derrotar o fascismo como eu. E se alguém, atacando a esquerda, conseguir tirar o fascismo do primeiro turno, ficarei muito feliz, e trabalharei para derrotá-lo no segundo. E por enquanto era isso o que eu tinha a dizer.