Sobre uma CPI
Deixa eu recapitular umas coisas aqui. Só algumas, porque é muita coisa.
Logo depois da eleição do ano passado em que o fascismo foi batido, começou uma reação baseada nas mentiras divulgadas na campanha. Com a alegação de que a eleição tinha sido roubada porque as urnas não eram confiáveis, os fascistas começaram a acampar em frente a quartéis pedindo um golpe militar. Na verdade a eleição tinha sido roubada, mas pelos fascistas, já que a Polícia Rodoviária Federal, comandada por um deles, tentou impedir que os eleitores do PT votassem.
Os alucinados acampados nos quartéis acreditavam em delírios sobre esperar 72 horas pela intervenção divino-militar, 72 horas que se renovavam indefinidamente. A posse do Lula, sem nenhuma intervenção, levou-os ao desespero. Paralelamente a isto, conspirações eram gestadas nos gabinetes do governo que saía, incluindo nomes como o ministro da Justiça e o próprio presidente. Uma minuta de intervenção militar chegou a ser redigida, aguardando assinatura.
Logo depois da posse, começou uma conclamação geral nas redes sociais fascistas — as mesmas que haviam sido usadas durante toda a campanha — para estarem em Brasília dia 8 de janeiro. Caravanas de dezenas de ônibus foram financiadas por empresários apoiadores do fascismo, os mesmos que já estavam financiando os acampamentos, pagando comida, banheiros químicos e outras infraestruturas. Os militares se recusavam a desmontar os acampamentos, que por sua vez seguiam pedindo a eles que dessem um golpe de Estado, e alguns dos acampados chegaram a ser recebidos pelos militares e serem apoiados por eles.
E aí, no dia 8, viu-se o que se viu. As convocações fizeram efeito, e uma turba fascista invadiu e destruiu tudo que viu pela frente nos prédios dos 3 poderes. Não fizeram a menor questão de esconder o que faziam, ao contrário eles mesmos se filmaram e postaram nas redes sociais. Contaram com a conivência das forças policiais que deveriam ter impedido sua entrada, do secretário de segurança do Distrito Federal e talvez do próprio governador.
Na verdade, os militares aguardavam que o caos provocado forçasse o Lula a pedir a intervenção militar, o que poderia servir de pretexto para o golpe ansiado. Em vez disso, Lula, inteligentemente, decretou intervenção federal no DF, sem os militares. Depois, a Polícia Federal começou a prender os vândalos. Centenas deles lotaram a Papuda. reclamaram da falta de wifi na prisão e outras coisas ridículas. Foram sendo soltos aos poucos, mas há hoje centenas de processados.
Como se pode ver, houve uma tentativa orquestrada de golpe de Estado, contando com patrocinadores, conivência e participação militar, um complexo sistema de comunicação e arregimentação e um planejamento que passava pelos nomes mais altos do governo anterior. Tentativa que foi derrubada pelo governo graças ao pulso firme do novo ministro da Justiça e da ação política do próprio novo presidente.
Eis que a oposição a este novo governo, formada basicamente por fascistas e simpatizantes do ex-governo fascista, quer criar uma CPI para investigar este dia 8 de janeiro. Ela pretende, por meio dela, nos convencer que houve mesmo uma tentativa de golpe de Estado dia 8, mas que quem tentou o golpe… foi o próprio governo eleito.
Há centenas de provas coletadas contra os participantes e organizadores do dia 8 de janeiro. As investigações da PF continuam e os inquéritos no STF seguem avançando. O ex-ministro da justiça está preso, e a participação do ex-presidente é quase certa. Mas repito: a oposição fascista quer nos convencer de que o governo do PT recém-empossado foi quem tentou dar um golpe. E se a CPI foi mesmo instalada, eles vão passar os próximos meses repetindo isso.
A capacidade de mentir me surpreende sempre. Mas uma coisa e certa: o governo do PT precisa urgentemente de uma estratégia de comunicação eficaz. Se não, vamos passar o resto do ano deixando de lado todo e qualquer avanço da economia, melhoria das condições de vida, direito conquistado, para dar atenção às diatribes de fascistas mentindo descaradamente no plenário do Congresso.
Esta é a maior urgência deste governo hoje: comunicação. As forças fascistas, depois do dia 8, estiveram na defensiva até agora. Isto mudou, elas passaram ao ataque. A eficiência da comunicação, tanto quanto as ações, determinará o sucesso deste governo, porque as pessoas precisam ficar sabendo o que está sendo feito. O efeito de muito do que está sendo feito de bom agora só será sentido daqui a um ano e meio. Se o fascismo conseguir substituir estas ações por acusações no ouvido das pessoas, este ano e meio pode até não chegar. Estejamos atentos.