Sobre um juiz e seus crimes
Vamos combinar uma coisa. Não há, e dificilmente vai haver, nada nas mensagens trocadas entre Sérgio Moro, Dalagnol e quem quer que seja, que já não fosse sabido há tempos por qualquer pessoa com um mínimo de bom senso. Qualquer um com alguma noção jurídica e imparcialidade básica sabe que:
- Sérgio Moro atuou como parte da acusação o tempo todo na Lava Jato;
- Sérgio Moro grampeou inconstitucionalmente a presidenta da República;
- Sérgio Moro divulgou ilegalmente os áudios deste grampo com finalidade unicamente política;
- Sérgio Moro grampeou também todos os advogados de um réu — o escritório inteiro;
- Sérgio Moro chamou para si processos que nada tinham a ver com a Lava Jato, alegando relações que não se confirmaram, apenas para atingir seus alvos políticos;
- Sérgio Moro prendeu sem justificativa razoável inúmeras pessoas, com o objetivo de coagi-las a delatar outras;
- Sérgio Moro prendeu parentes de acusados com este mesmo objetivo;
- Sérgio Moro manipulou condenações de acordo com depoimentos. Se uma delação citava meio mundo mas não seu alvo, não era aceita;
- Sérgio Moro aceitou inúmeras delações sem nenhuma prova apenas por serem dirigidas a seu alvo;
- Sérgio Moro aliviou penas se delatores que disseram o que ele queria, mesmo sem apresentarem nenhuma prova;
- Sérgio Moro construiu condenações com base em pirâmides de delações sem provas, uma confirmando a outra, e conseguidas como descrito acima;
- Sérgio Moro condenou com base em modificações feitas por ele das acusações que haviam sido feitas pelo Ministério Público, impedindo assim a ação da defesa;
- Sérgio Moro foi no mínimo leniente com inúmeros vazamentos de depoimentos da Lava Jato, incluindo uma inacreditável entrevista coletiva de vazamento dada pela procuradores, sempre úteis a seus propósitos políticos;
- Sérgio Moro confraternizou-se seguidamente com políticos acusados de corrupção, todos de partidos opositores ao que era seu alvo;
- Sérgio Moro combinou com a instância superior, via seu amigo Gebram, não apenas a confirmação de sua sentença, mas o agravamento da pena de forma unânime e fora da dosimetria, para impedir a prescrição;
- Sérgio Moro é cúmplice de um processo específico ter passado a frente de diversos outros na segunda instância, com o objetivo explícito de impedir uma candidatura a presidente;
- Sérgio Moro, após sua saída, deixou as especificações para a, condenação de um processo que ele deixava em outras mãos. A cópia foi tão descarada, incluindo parágrafos inteiros, que nomes que deviam ter sido trocados não o foram, gerando erros bizonhos. Note-se que esta condenação, sendo cópia de uma farsa, torna-se outra farsa.
- Sérgio Moro liberou vazamentos específicos contra um dos candidatos à presidência às vésperas do segundo turno, com acusações que não se confirmaram posteriormente;
- Sérgio Moro aceitou ser ministro do candidato beneficiado pelo vazamento, que venceu a eleição;
- Sérgio Moro barganhou com este candidato eleito uma posterior indicação ao STF em troca de aceitar o cargo.
Eu poderia passar o dia inteiro aqui, e na verdade passei, pois a toda hora lembrava de mas algum crime cometido por quem devia combatê-lo. Todos os itens acima são públicos e notórios, independente de conversas vazadas. Em qualquer nação razoavelmente civilizada, apenas um deles seria suficiente para arruinar uma carreira e anular todos os processos relacionados.
Mas infelizmente não me sinto no direito de ser otimista. É provável que a ida de Moro ao STF esteja sepultada, mas não creio que seus apoiadores fervorosos vão mudar de ideia sobre ele. Pois não é que eles não soubessem, eles sabem e aprovam. Eles consideram que um super-herói tem direito de violar a lei para fazer o que eles chamam justiça. E acima de tudo, eles seguem o ensinamento fundamental do super herói que escolheram: não precisam de provas, basta-lhes a convicção.