Sobre o sete de setembro
Bolsonaro está cercado, de costas para a parede, e está tentando furar a parede para fugir, porque sabe que não tem como derrubar a quantidade de oponentes que se voltou contra ele. E está fazendo como um bicho fraco e acuado costuma fazer: muito barulho e pose para parecer bem maior que é e tentar assustar os que o encurralaram.
Ele é investigado em cinco inquéritos diferentes: sobre a interferência na PF para proteger o filho, sobre prevaricação na compra de vacinas, sobre ataques às urnas eletrônicas, sobre vazamento de dados da PF e sobre as fake news que garantiram sua eleição. Sem falar das acusações de desvio de dinheiro público por décadas, vulgo rachadinha, pelo que só pode ser investigado depois de deixar a presidência, já que o crime é anterior — mas a acusação o pressiona do mesmo jeito.
Já no campo econômico, a inflação escala e joga pessoas na miséria, combustíveis e energia caros paralisam a economia, e a falta d’água acena no horizonte. Ele quer criar seu próprio Bolsa Família mas não tem competência para tal nem de onde tirar dinheiro. E no político ele tem a reprovação mais alta que nunca e sem reversão à vista, e o sujeito que foi tirado providencialmente de seu caminho há três anos está de volta, mais forte que nunca. Até mesmo o legislativo que ele comprou a peso de ouro já marcou data para deixá-lo ao relento, pronto para ser preso.
O que lhe resta? Resta arreganhar os dentes, eriçar o pelo, rosnar o mais alto que pode. Resta juntar todos os que lhe restaram para fazer barulho. As manifestações do dia 7 estão sendo direcionadas para praticamente só dois lugares, Brasília e São Paulo, porque ele sabe que não tem gente suficiente para espalhar pelo Brasil. Por isso, ônibus e mais ônibus são fechados com destino à Avenida Paulista. Lá vai lotar, certamente, Brasília talvez também encha. E daí? E depois?
Depois, nada. Porque o que Bolsonaro está tentando fazer é estancar descida de ladeira de sua popularidade. Ele sabe que foi eleito numa onda de comunicação, e fez de tudo para manter a onda alta o mais tempo possível, contra todos os dados de realidade. Só que agora a moda de ser bolsonarista passou. O que ele quer é impedir isto, mostrar que ainda há muita gente com orgulho de ser alucinado, para que quem está balançado não deserde, para quem anda decepcionado volte a esquecer a vida real para combater o fantasma da vez.
E sobre a possibilidade de golpe: esqueçam. Pai Túlio diz o que vai acontecer: qualquer eventual ilegalidade e violência cometidas terça-feira só vai servir para enfurecer ainda mais o judiciário, a classe política e o empresariado e o sistema financeiro que só gostariam que ele sossegasse, mas não têm mais esperanças. Em suma, o sete de setembro só vai servir para precipitá-lo mais rápido o abismo. Até porque depois dele, mesmo quem ainda acreditava que ele tivesse alguma carta na manga vai perceber que é tudo blefe, e vai perder o medo de atacar.
Em suma, terça-feira a besta fera vai rugir, uivar, ladrar, blaterar, bramir, relinchar, zurrar. E nada disso vai adiantar, porque não há como fazer a onda voltar a subir. Depois que um pretenso machão não consegue nem refutar a acusação de corno, não tem mais volta. Bolsonaro vai terminar preso e tudo o mais, mas principalmente, vai acabar do jeito que mais teme: totalmente desmoralizado.