Sobre o Sergio Reis
Essa história do Sergio Reis é uma radiografia muito precisa da cabeça bolsonarista. Não original, porque o padrão se repete com alguma regularidade. Mas por ser quem é, acaba sendo um bocado instrutivo, porque ele é representante em doses quase iguais de dois mundos: do conservadorismo rural já nosso conhecido, e do fascismo tupiniquim que ascendeu recentemente.
Não vou ceder à tentação de desqualificá-lo artisticamente como andam fazendo. Ele tem uma obra musical longeva e ter passado da Jovem Guarda para o sertanejo não é desdouro. Mas sua música é eminentemente conservadora basta ouvir. E no meio rural, por baixo deste conservadorismo está frequentemente a truculência de latifundiários e grileiros.
Mas há mais que isso, porque este conservadorismo não se manifesta como ele se manifestou. A verborragia dele foi típica do fascismo que o impregnou. E ele ter tido o arroubo que teve foi fruto de ter perdido um bonde. Ele disse o que disse porque realmente achou que era porta-voz da maioria, achou que esta maioria o autorizava a qualquer coisa. Isso é típico do bolsonarismo, que defende a extinção das minorias, e típico da lei do mais forte do campo também. É nisto que eles se encontram, permitindo a caçada de índios e a invasão de terras.
Só que quando ele percebeu que não era maioria, o mundo caiu sobre sua cabeça. Porque ele achou que a lei do campo e a lei da maioria eram a mesma coisa, segundo a aliança travada entre elas. Só que não são. O Sergio Reis achou que os caminhoneiros garantiriam a lei do mais forte e que a força de uma maioria arrastaria os caminhoneiros. E achou que os caminhoneiros, geralmente conservadores, seriam automaticamente bolsonaristas. Isto já foi verdade, mas deixou de ser, e ele não percebeu. E caiu do cavalo, ou da boleia.
É isto que faz o seu vexame tão representativo. Ele realmente estava convencido que sua bravata estava ancorada numa multidão que foi seu público a vida inteira, e quando este público o abandonou ele ficou magoado, coitado. Porque houve um momento em que o conservadorismo bruto do interior, do subúrbio, converteu-se em massa ao fascismo, no entusiasmo de redes sociais. Mas este momento passou e a realidade está caindo sobre suas cabeças. O Sergio agora recorre ao estratagema conhecido de ter sido mal interpretado. Mas o intérprete é ele, e foi ele quem não percebeu que o tempo virou contra ele. Ou, para usar uma metáfora a propósito, ele não viu a boiada passar.