Sobre o Rei Leão

Túlio Ceci Villaça
2 min readOct 30, 2019

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Diante de um governo que sequer tenta disfarçar, às vezes fica parecendo improdutivo apontar o óbvio que muita gente ainda se recusa terminantemente a enxergar. Mas o vídeo “Rei Leão” do Bolsonaro tem algumas revelações:

Antes mesmo de considerar o vídeo, é preciso considerar sua origem. De onde veio esta montagem? É possível que o pessoal de direita já o conhecesse e ele tenha sido apenas compartilhado pelo Bolsonaro. Mas mesmo neste caso, não duvido nada que ele tenha sido criado dentro do Palácio do Planalto, pela turma denunciada, entre outros, pela Joice Helmmans. Ou seja, divulgar o vídeo não é uma ação errática, é estratégica.

Ah, mas ele apagou devido à reação. Ora, apagar o vídeo depois de ser visto e comentado é como decretar sigilo de um processo depois de ele vazar para a imprensa. Serve apenas para salvar precariamente as aparências. O que ele queria fazer, fez. Achar que o apagamento foi um recuo é muita ingenuidade. O recado está dado.

Já foi apontado que o vídeo “Rei Leão” teria o objetivo de desviar a atenção do Queiroz, que está se sentindo ameaçado e decidiu ameaçar Bolsonaro vazando sua áudios para a imprensa. Mas acho que o buraco é mais embaixo,

Dito isto, vamos à lista completa das hienas do vídeo é: PT, Veja, Folha de São Paulo, PC do B, Isentão, PSDB, Feministas, STF, Rede Globo, ONU, PSL, Estadão, OAB, Greenpeace, MST, Via Sensata, Jovem Pan, CUT, MBL, Lei Rouanet, Força Sindical, PSol, PDT e CNBB. Um saco de gatos incluindo, partidos, instituições nacionais e internacionais, imprensa. E o próprio partido. Eu tenho comentado a estratégia de isolamento regressivo da gangue, que inclui a queima dos aliados (o último é o Nando Moura). Mas o discurso do vídeo é mais que isso. O discurso é o do totalitarismo messiânico, nem mais nem menos. A defesa de um poder personalista e absoluto sobre todas as outras forças, sejam quais forem

Isso é crime. É mais um dos crimes de responsabilidade cometidos por Bolsonaro. Olavo de Carvalho também está se movimentando, convocando a formação de uma militância bolsonarista — não conservadora, bolsonarista.

Mas devo dizer que o vídeo tem uma grande verdade, é um ato de radicalização de um governo cercado. Um ato covarde como de costume, por ser apagado em seguida, mas efetivo para sua turba, onde ele se agarra para tentar se sustentar. No vídeo, Bolsonaro é salvo por outro leão, o “conservador patriota”, que ele quer converter em puramente bolsonarista. No fundo um pedido de socorro, um velado “Não me deixem só!” curiosamente contraditório com os sucessivos expurgos e demonizações. Nitidamente, a ordem unida É cada vez mais radical e para cada vez menos gente.

Bem, Olavo bradou que se não exterminar os partidos de esquerda Bolsonaro não dura seis meses. Acrescente-se imprensa, STF, ONU, Lei Rouanet, Greenpeace, etc, e sou obrigado a admitir: Olavo tem razão.

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