Sobre o pensamento mágico

Túlio Ceci Villaça
2 min readMay 9, 2019

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A diferença entre compreender o poder da palavra e acreditar em pensamento mágico é um pouco sutil. Um pesquisador acadêmico acredita no poder da palavra, em especial os de humanas. Ele em geral entende o poder do que é escrito de mudar a realidade. Assim também os melhores artistas. Mas eles também entendem que este é um processo longo, às vezes superior a uma vida humana, e que individualidades têm pouco controle do que acontece, pois estamos falando de sociedade e de história.

Neste governo há algumas pessoas que estendem isto, mas a maioria está fora dele manipulando-o, em alguns casos de fora do país. Estas sabem subverter as palavras para enganar e conduzir os demais. E os demais são a maioria absoluta, que acredita em pensamento mágico, que palavras definem automaticamente o mundo. A teoria do Marxismo cultural é baseada inteiramente no pensamento Mágico, na noção de que o controle da palavra mudaria tudo a seu redor, numa interpretação aberrante de Gramsci. E da mesma forma, a campanha de fake News e o uso massivo de robôs em redes sociais, crendo e fazendo crer que, se está escrito, é verdade.

A verdade é que este grupo no poder é a personificação da classe média semiletrada, desde sua origem tijucana. Antes eles eram mediados por seres como o poeta das mesóclises, mas agora não há mais intermediários. Eles não sabem se expressar fora de limitar estritos, fogem de debates de campanha, usam a ofensa como argumento, mandam indiretas e ameaças incompreensíveis no twitter.

Mesmo os que deveriam lhes dar um verniz intelectual são igualmente semiletrados: Moro tem sua sentença furada contra Lula protegida pelo medo que todos têm do condenado, mas sem esta proteção sua incapacidade se evidencia a cada declaração e entrevista. Os ministros da educação e Relações exteriores são incapazes de fazer uma citação correta. Não é de se admirar que eles tenham medo da palavra e tentem calar discordantes a todo custo. E é isto quite explica a proibição do uso da expressão “violência obstétrica” para se referir às incontáveis … violências obstétricas sofridas por mulheres. Não é como os publicitários, que arranjam nomes fofos como trocar agrotóxico por defensivo agrícola, é só a proibição mesmo. Eles reamete acham que suprimir a palavra resolve o problema. Pensamento mágico na veia.

É por isso que mantenho a convicção de que este governo não tem como se sustentar. Porque é fundeado na crença de mudar o mundo com um ababracadabra. Já está sendo atropelado pela realidade, mas está em fase de negação. Se vai continuar, pouco importa. As palavras escritas há anos, séculos, estão esperando para frutificarem novamente. As de verdade, as que têm poder real.

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Túlio Ceci Villaça
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