Sobre o fascista da bicicleta
Sobre o Monark em si já se falou muito, mas há pouco para dizer. É um mané que passou do comentário de games para falar de qualquer coisa , e um representante de uma parcela deste universo nerd que se deixou capturar pelo fascismo. Uma ponta de iceberg. Perdeu o holofote e um bocado de patrocinadores, fez vídeo chorando e com a ridícula desculpa de estar bêbado, mas vai continuar lucrando e, se duvidar, vai ser contratado por uma Jovem Pan ou levar o podcast para o Spotify, que está investindo no filão.
Me interessa muito mais a escalada da discussão que está acontecendo desde o famigerado texto do Risério e a defesa de sua liberdade de expressão, supostamente ameaçada se ele deixar de ser colunista de jornal (eu, que nunca fui, sou um oprimido de nascença), e seguindo adiante com a manutenção do podcast negacionista do Joe Rogan pelo Spotify. A questão é a mesma nos três casos, apenas ainda mais esgarçada e levada a seu limite, o Reductio ad Hitlerum, mas não por quem combate o nazismo, mas por quem o defende.
E aí caímos na armadilha olaviana, do acuse-o do que você faz. Começamos pela acusação do racismo reverso feita pelos fascistas aos negros; passamos para um maior grau de sofisticação com a condenação do chamado identitarismo negro por parte de grupos claramente identitários , sejam religiosos, de classe ou mesmo um bando de brancos; e finalmente, chegamos ao corolário, que é a acusação de nazista a quem defende a criminalização do pensamento nazista. Alice no País do Espelho: racismo reverso, identitarismo reverso, nazismo reverso, tudo isso no melhor espírito de um J’accuse reverso, pois não podemos esquecer os judeus…
Me preocupa pouco o Monark, repito. O que me preocupa é que ele é boi de piranha. Conseguiu a proeza difícil de unir o país contra ele um ano depois da Conká, parabéns. Mas o fascista do MBL que estava presente e concorda com ele é deputado federal (a Tábata não me importa, é uma pessoa íntegra por ter rebatido e uma idiota por ter aceito ir). Ele foi, ou é, não sei, colunista de jornal. Perderá o megafone por isso? Ele tem a tribuna da Câmara para falar. Vai perdê-la?
No fim, a discussão é a mesma em todos os casos: quem tem o direito de defender a perda de direitos alheia, e de quais direitos? Agitar a bandeira do direito de expressão, quando esta expressão implica na perda do direito à vida de outros, é pura hipocrisia. Mas é uma das armas preferidas do fascismo. Neste caso, o paradoxo da tolerância de Popper segue mais atual do que nunca. Tolerar a intolerância é matar a tolerância, assim como dar voz ao fascismo é matar a democracia.
É preciso educar crianças e adultos contra os efeitos do fascismo. Mas contra fascistas, não é o caso de discutir. Antes de tudo, é preciso tirar-lhes o megafone — o que não é censura. Impedi-los de ganhar dinheiro com sua pregação. E aí, com eles reduzidos a seu nanismo real, mostrá-los ao mundo sem o glamour de defensores de uma liberdade homicida, mas com a sua face vergonhosa à mostra, para que todos possam enxergá-lo devidamente.