Sobre dois suicídios

Túlio Ceci Villaça
2 min readJul 20, 2022

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As mortes de Claudinei Coco Esquarcini, diretor da Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu e de Sérgio Ricardo Faustino Batista, diretor da Caixa, estão ligadas de uma forma estranha. São duas pessoas ligadas a crimes cometidos sob a guarda do fascismo tupiniquim e que sofreram suas consequências depois dos crimes serem cometidos, porque estes crimes caíram sobre eles.

O vigilante Claudinei foi quem chamou a atenção do assassino Jorge Guaranho para a festa com tema do PT que Marcelo Arruda estava fazendo, mostrou-lhe imagens da festa compartilhando as senhas da vigilância. Foi graças a isto que Jorge foi à casa do Marcelo, colocou propaganda bolsonarista em alto volume em seu carro para provocar, e depois voltou com uma arma e o matou, e por pouco não chacinou meia festa.

Já Sergio Ricardo era o diretor de Controles Internos e Integridade da instituição, o setor responsável por receber denúncias internas e externas — incluindo as de assédio sexual seguido cometidos pelo presidente Pedro Guimarães. Foi também seu assessor direto dele antes de ser diretor. E certamente sabia do que estava acontecendo.

O Claudinei se jogou do alto de um viaduto. Aparentemente, Sergio também se jogou da janela do prédio. Sei que, em tempos de fascismo, há suspeitas de queima de arquivo. Mas para mim faz todo o sentido que ambos tenham se matado. Nos dois casos, há investigações em curso que fatalmente chegariam a eles. Nos dois casos, as vidas deles estariam arruinadas pela cumplicidade.

Nos dois casos, o fascismo que suportaram tão próximo e até defenderam caiu sobre suas cabeças em crimes muito mais graves do que eles próprios provavelmente seriam capazes. O fascismo se mostrou a eles como realmente é, com todas as suas consequências, e eles não foram capazes de suportar as consequências.

Eu gostaria de acreditar que eles se jogaram não pela iminência de serem investigados e presos, e sim por culpa e arrependimento. Faz pouca diferença para quem permaneceu deste lado, mas se eles conseguiram enxergar a real dimensão de seus atos em vez de apenas o tamanho da pena que cumpririam, isto seria para mim uma esperança de que, ao menos diante de tragédias como estas, ainda é possível aos hipnotizados fascistas abrirem os olhos.

Mas não tenho como ter certeza. E, se não for por um despertar tardio de consciência, que seja então pela prisão. Adorarei ver, quando o fascismo cair, muitos e muitos destes cúmplices coadjuvantes de seus crimes também caindo, não de viadutos ou vigésimos andares, mas das nuvens, como Machado de Assis considerava mais sadio, e em si.

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