Sobre dia 29

Eu vou à manifestação de sábado. E quero avisar aqui que esta é uma decisão exclusivamente pessoal, minha e de quem for, ou não for.

Porque sim, a terceira onda já está chegando. Sim, a vacinação está cambaleando, avançando a passos de cágado. E sim, estamos longe de estarmos a salvo. Tudo isto é motivo para não ir à manifestação. E tudo isto é motivo para ir.

Porque tudo isto foi causado por um governo genocida e fascista, e não há palavras mais brandas para defini-lo. Então, há forças centrípeta e uma centrífuga atuando simultaneamente, e em ambas o fator definidor é o bem coletivo, pois quem se protege também protege os demais, e quem protesta, protesta também por quem não foi.

Portanto, a decisão não tem como não ser unicamente pessoal, e baseada em critérios únicos cada um. Vai quem se sentir seguro para ir, antes de tudo. Não totalmente seguro, porque isto é impossível no momento. Seguro o suficiente.

Há um motivo para todos os que vão se sintam um pouco mais seguros, ou um pouco menos inseguros: os que estarão lá são justamente os que não diminuem a gravidade da doença, e portanto tomarão o máximo de cuidado com relação ao distanciamento possível numa manifestação, o uso de máscaras, o não contato direto.

E há a questão da avaliação estritamente individual. Quem já tomou as duas doses há mais de 15 dias, por exemplo, tem menos chance de se contaminar que quem não o fez. Eu não tomei nem a primeira, e desconfio que quando finalmente chegar a minha vez nem vai estar mais na moda mostrar a foto… mas tive covid duas vezes, e minha mulher também já teve. Não, não estou inteiramente a salvo nem assim, ainda mais com a variante indiana chegando. Mas eu vou, porque alguém precisa ir, e prefiro que seja eu a alguém que corra mais risco que eu.

E por isso, minha decisão não é exemplo para ninguém. Tenho certeza de que as pessoas que conheço (bem, a maioria) gostariam de ir e de ajudar a enfraquecer e derrubar este governo tanto quanto eu, e se não vão, têm seus bons motivos, pois estes também não faltam. A elas, peço que deem suporte a quem for, incitando-os a tomar cuidado e divulgando o quanto puderem os acontecimentos de lá, para que o que ocorrer na rua seja também muito grande no campo virtual, onde a famosa disputa de narrativas também se dá.

Então é isso. Com o máximo respeito pela decisão de cada um, nos vemos na rua sábado, às 10 da manhã no monumento a Zumbi, no Rio de Janeiro, ou em cada ponto de encontro em cada cidade — ou por aqui nas redes, à noite. Pelo Nelson Sargento, pelo Aldir… não, não vou fazer esta lista. Pelos nossos amigos e parentes que se foram, e pelos que não entraram nas listas, 450 mil pessoas. por eles e por nós. Até lá.