Sobre como o governo Bolsonaro está acabando com o Fundo Amazônia
Antes de mais nada, algumas informações importantes: o Fundo Amazônia, criado para dar a partida em projetos econômicos sustentáveis na região, vive de dinheiro dado de graça por países estrangeiros, notadamente Noruega e Alemanha. Repito: de graça. Não há contrapartidas. Estes países fazem contribuições por vários motivos, entre eles ficar bem com seus eleitorados, mas também algum nível de consciência sobre a urgência econômica da preservação ambiental no mundo.
Dito isto, vamos aos acontecimentos. Um dia o ministro do meio ambiente, que já assumiu o cargo condenado por adulterar mapas para beneficiar desmatadores, anuncia que descobriu que metade dos contratos do Fundo Amazônia contém irregularidades. O BNDES, administrador do Fundo, sem questionar destitui imediatamente a gerente responsável. No dia seguinte, em entrevista coletiva, o ministério não é capaz de apontar nada de errado nos contratos, apenas diz que os critérios de uso do dinheiro precisam ser revistos. Foi cumprida uma etapa, que era tirar do caminho a equipe técnica.
O passo seguinte era se apropriar do dinheiro, e foi o que tentaram ao decidir unilateralmente que o Fundo passaria a ser usado para indenizar desapropriações de terras. Ou seja, em vez de investir em atividades produtivas, o dinheiro iria para os latifundiários. E como não seria mais dinheiro do governo, também não precisaria pagar barato, não é? Os gringos bancam… só faltou combinar com eles, que evidentemente disseram que se essa deturpação do Fundo avançasse, seria sem o dinheiro deles.
E foi por isso que começou esta série de grosserias infantis do presidente, mentindo seguidamente sobre a situação ambiental na Alemanha enquanto faz todo o possível para maquiar os números abissais do desmatamento por aqui. Alinhada com suas criancices e seis interesses escusos, a comunicação do governo volta a martelar que os gringos na verdade estão apenas interessados nas boas riquezas minerais, incluindo, claro, a grande estrela desta argumentação, o nióbio. Uma argumentação tão falsa quanto estúpida. Falsa porque, como disse no início, não há contrapartidas para quem contribui para o Fundo Amazônia. E estúpida porque quem quer explorar o minério da Amazônia devia um presidente que só fala em acabar com reservas ecológicas e botar os índios para correr — os que escaparem dos tiros.
As respostas lacradoras e mentirosa de Bolsonaro são sua reação contrariada ao perceber que seu poder não se estende a outros países. Tudo o que ele conseguiu foi que o Fundo Amazônia, neste momento, deixasse de existir, sem seus dois principais financiadores. Não que ele se importe com isso, seu problema é não ter conseguido se apropriar do dinheiro.
Mas o nosso problema é que além de sabotar inúmeras iniciativas fomentadas pelo Fundo antes que se tornem autossustentáveis, estas grosserias mentirosas, associadas a outras como a validação de centenas de pesticidas, vai tornando o Brasil um pária do comércio de comida, justo um dos sustentáculos de nossa economia. Os prejuízos de sanções internacionais podem ser incalculáveis.
Bolsonaro foi praticamente forçado a assinar o Acordo de Paris para poder anunciar a parceria Mercosul x UE. A extinção do Fundo Amazônia não anula o Acordo, mas suas consequências podem vir a fazê-lo. E, vendo a fome que Bolsonaro e seus comparsas como o ministro do meio ambiente demonstraram pelo dinheiro de outros países para sua amigos latifundiários (os primeiros a serem prejudicados por sanções comerciais), custa a crer que este acordo chegará a ser posto em prática. Muito pelo contrário.