Sobre como Bolsonaro pretende se reeleger
Bolsonaro conta com duas coisas para vencer a eleição: o orçamento secreto e a comunicação subterrânea. São dois elementos complementares.
O orçamento secreto, que já serviu para comprar os parlamentares, serve agora para praticar o clientelismo. Em cidades e bairros de baixa renda deste país neste momento tem uma rua sendo asfaltada, uma ambulância sendo entregue, um campo de futebol sendo inaugurado. Só em campos de futebol já foram mais de sete milhões de reais. Claro que tem o superfaturamento…
Ora, mas ainda assim é bom, dirão, ao menos algo está sendo entregue. Ocorre que a distribuição desta grana não é para quem precisa, mas para quem vai para o partido do Centrão. Não é à toa que o PL recebeu mais de 30 deputados em poucos dias e virou a maior bancada da Câmara. Cada uma destas mudanças de partido foi regiamente paga.
Mas como saber se estas obras são mesmo apadrinhadas por estes políticos, se o orçamento é secreto? Fácil. Basta ver o nome de quem está na obrigatória faixa de agradecimento “em nome dos moradores e cidadãos” do lugar. Estas faixas, e às vezes outdoors, são o verdadeiro motivo das obras. Se não puderem nomear o santo, para que o milagre? O que estes deputados querem é a reeleição. E logo adiante, sendo agora do partido do presidente que também quer se reeleger, trarão o nome dele junto com o seu nos santinhos.
Este é o primeiro elemento. O segundo também é muito bem pago, e tem um modelo à parte de campanhas políticas que vale a pena conhecer, se você tiver estômago. Vale a pena ler a exemplar reportagem da Agência Pública sobre como uma agência de comunicação contratada pelo iFood criou uma rede de mentiras e desqualificação para desmobilizar os entregadores e impedi-los de fazer reivindicações, inclusive desmoralizando seus líderes.
Já notei nas últimas semanas o aparecimentos de numerosas páginas de Facebook criadas para “apoiar o presidente”. Cada uma delas é seguida rapidamente por milhares de pessoas, e a tentação de responder às postagens delas por parte da esquerda só aumenta seu alcance. São páginas e mais páginas que surgem do nada, não se sabe quem é responsável e veiculam material favorável ao governo 24 horas por dia. Imaginem a quantidade de dinheiro que está sendo dispendido para elas, já agora, antes da campanha oficial começar.
E isto é no Facebook, que, embora declinante, ainda é uma rede extremamente relevante, porém visível. Certamente, ao mesmo tempo, está começando a estratégia de captura de grupos de whatsapp, mesmo que esta rede hoje tenha restrições de compartilhamento. grupos de pais, de academias, condomínios, preparem-se. Vão tentar tomá-los de assalto como aconteceu em 2018. Afora Telegram, Twitter etc. Tudo regado a dinheiro ilegal.
Estes dois elementos então fazem, digamos, um movimento de pinça. De um lado, a comunicação delirante, a distribuição de mentiras sobre o inimigo e o vangloriar de números espetaculares da atual gestão, independente de se associarem à realidade. E do outro, um toque de realidade: uma rua asfaltada aqui, um campo de futebol acolá, generosamente oferecidos pelo amigo do presidente Fulano de Tal.
Esta é a estratégia dele, já muito bem delineada. E a nossa?