Sobre as duas tarefas da esquerda

Túlio Ceci Villaça
2 min readNov 25, 2020

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Há duas tarefas fundamentais que a esquerda está cumprindo neste segundo turno, que vão ainda além de vencer as eleições — embora evidentemente a vitória nas maiores cidades em disputa sejam importantíssimas para lhe dar vitrine para os próximos dois anos:,

Primeiro, vencer a narrativa do bicho-papão difundida pelas fake news. O sistema de comunicação subterrâneo construído pacientemente pelo fascismo ainda está aí. Os robôs continuam à toda, os grupos de whatsapp continuam à toda, a elaboração de memes para substituir argumentos e números não parou. Mas uma campanha é mais que isso, e hoje, dois anos depois, o impacto desta estratégia já foi parcialmente absorvido, já há contraestratégias informativas e principalmente, o elemento surpresa passou.

E junto a isso, há a busca da ampliação de público. Boulos, Manuela, Edmilson, João Coser, Sarto Nogueira, têm a tarefa de desmistificar o que é ser de esquerda para uma população bombardeada por mentiras há anos, e ir ao eleitor de centro, que está insatisfeito mas não quer revolução, quer reformas, quer atenção a ele e não ao mercado. A subida nas pesquisas deles é sinal de que isto está acontecendo, mesmo com toda a guerra de informção. Um bom sinal.

E a segunda coisa tem a ver com o fato de eu ter propositalmente citado candidtos do PSol, PC do B, PT, e PDT. Tem a ver com formar a rede de apoios internos precisa ser mantida, não para a eleição, mas para a ação política de verdade. Que tenha acontecido no segundo turno (empurrada pelo eleitor em vários casos) é de menor importância — no Rio, seria melhor ter ocorrido, antes, verdade, mas esta discussão já deu.

Fato é que, com pouca hesitação quando lembramos da brigalhada recente, todos os principais líderes fizeram seus aggiornamentos e direcionaram seus apoios. A exceção é Recife, mas por uma questão de compromissos anteriores. E é lamentável que o PSB, que poderia estar nesta lista, tenha sido sequestrado pela desvirtuação da herança familiar de Miguel Arraes, que deve estar lá do outro lado torcendo muito pela neta.

Há então duas coisas que precisam subsistir depois de domingo, sejam quais forem os resultados: o esforço no sentido de mostrar que esquerda é democracia (bem mais que o neoliberalismo), que suas promessas são factíveis e que seu objetivo não é implantar pautas (i)morais e (i)deológicas, é cuidar de verdade do cidadão e junto com o cidadão, em vez do descaso a que já nos acostumamos; e tanto quanto isto, manter as pontes e as portas abertas para apoios mútuos daqui a dois anos contra o fascismo (adoraria que a queda deste fosse antes, mas já ficou claro o suficiente que neste quesito a lei deixou de importar). Porque, assim como a união está fazendo a diferença em diversas cidades, certamente fará a diferença em termos nacionais. Veremos.

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Túlio Ceci Villaça
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