Sobre a nota do almirante
Depois do júbilo inicial pela nota do Almirante (nossa, de repente viramos fãs de notas de repúdio! ), há uma reação de desqualificação. É sempre o movimento de pêndulo típico das redes sociais. Então acho que vale a pena pesar as duas reações.
Sim, o almirante chefe da Anvisa foi nomeado pelo Bolsonaro. Foi com ele sem máscara a um evento no início da pandemia e nunca se desculpou. A Anvisa até o momento aprovou 1552 novos agrotóxicos desde o início do mandato Bolsonaro, quis dobrando o número deles no Brasil. E, ao lado disso, ela tem feito um bom trabalho frente à pandemia.
Ou seja, o almirante é um militar cooptado para o governo como centenas. É um bolsonarista de primeira hora. E sim, sua carta trata muito mais de defender a própria honra que a instituição Anvisa, e é uma lacrada forte como as redes gostam. E mesmo assim é motivo de comemoração, porque mostra os militares finalmente saltando do barco fascista.
Esta semana, com dois anos de atraso, a Forças Armadas determinaram não apenas que os militares devem se vacinar, como que estão proibidos de disseminar fake news (!). Bolsonaro ficou fulo e mandou elas fazerem uma nota explicando seus motivos. E elas decidiram não publicar a nota. Sem satisfações ao chefe. Uma sutil sublevação.
Isso parece pouco, mas é sinal de saco cheio e, para militares, é uma enormidade. A nota do Almirante (protegido pela estabilidade do cargo) é outra. São recados de que o pato está manco, 9 meses antes do fim do mandato, e de que as FA estão prestes a rejeitar o filho feio. Ainda haverá Pazuelos e Helenos fiéis até o fim, mas a instituição, a partir de agora, começa a tomar distância cada vez maior. E isto, como avaliação política, é ótimo.
E digo mais: é basicamente a mesma coisa que vai acontecer com o Centrão. Vai todo mundo debandar até só restarem os alucinados reais e raiz, meia dúzia de desesperados ridículos sem a proteção da quantidade. Só começou, e cada defecção merece sim ser comemorada, sem julgamentos morais. Não é o caso de julgar almirantes — ainda.