Sobre a articulação do fascismo (e a verdadeira transferência)
Sobre a tentativa frustrada de transferência do Lula, queria ainda dizer uma coisa, que na verdade não é sobre ela, mas como ela evidencia uma articulação entre as forças de repressão e as de comunicação.
Senão, vejamos: A Polícia Federal pede a transferência — certamente a mando interno de Sérgio Moro, numa interferência ilegal. Em seguida, a juíza Carolina Lebbos, apaniguada de Moro e posta por ele para controlar o cárcere de Lula (a mesma que se recusou a obedecer o desembargador que ordenou sua soltura, lembram?) concorda incontinenti. O caso vai para o STF sob indignação geral, até de deputados do Centrão. E aí, de repente, a hashtag # STFTraidor vai ao topo do Twitter, superando a #DefendamLulaUrgente.
Ora, sabe-se bem que uma das especialidades da comunicação deste governo é a manipulação de hashtags. Elas vão para o topo quase instantaneamente, não por causa de seguidores, mas de robôs contratados em outros países. É fácil concluir que a maioria absoluta dos replicadores destas hashtags não são humanos. Primeiro porque elas sempre se tornam primeiro lugar também em países da Ásia — Irã, Indonésia, Paquistão — e segundo porque pelo menos duas vezes hashtags com erros crassos de digitação (ah, esses estagiários) foram para a liderança sem que ninguém se incomodasse em corrigi-las. Milhares e milhares de pessoas cometendo o mesmo erro, digitando “Boldonaro”? Tem graça..
Agora juntemos estas duas pontas, e descobriremos que o pedido de transferência era um jogo em que a comunicação do governo ganhava nas duas pontas. Já estava garantido o desvio de atenção da Reforma da Previdência que era aprovada na Câmara. Conseguindo a transferência, seria uma grande resposta aos defensores da Vaza-Jato, tripudiando sobre eles ao reafirmar o poder adquirido sobre Lula. Não conseguindo, já se havia atiçado a cachorrada, claro. Mas a derrota acachapante que levaram no STF foi o que serviu de pretexto para direcionar a fúria do canil do Lula para o STF, um alvo muito mais importante hoje.
Ou seja, é muito possível que toda a ação do pedido de transferência tenha sido articulado com a comunicação desde o princípio, e tenha tido o objetivo principal não de transferir efetivamente o Lula, e sim transferir o ódio dos fanáticos de Lula para STF. Uma transferência muito mais oportuna, já que é o STF quem mais tem atuado para barrar alguns dos absurdos da gestão Bolsonaro (ainda que permaneçam intimidados pelo exército na questão da soltura de Lula).
Se isto aconteceu assim, é sinal de que a máquina governamental está bem articulada, não em termos administrativos, mas, na união entre o aparato policial e os grupos responsáveis pela comunicação. Ao melhor estilo fascista. Não há notícias concretas da popularidade atual do governo, mas não há dúvida de que ele está atuando com muita eficiência em manter hipnotizados seus seguidores. E o uso desta articulação entre repressão e comunicação já tem desdobramentos, como as intimidações da PF a manifestações contrárias ao governo (invasão de um diretório do PSol, por exemplo). Esperemos que o STF, o atacado da vez, se dê conta do perigo que não apenas ele corre, e verifique porque a PF se recusa a investigar a fábrica de fake news que determinou a eleição. Talvez acabe descobrindo que é porque já foi incorporada por ela.