Sobre 2022, aliás 2023

Túlio Ceci Villaça
3 min readDec 29, 2021

--

A catástrofe na Bahia é só mais um desastre natural que acontece no governo Bolsonaro sem que ele tome nenhuma providência além de tentar se livrar da responsabilidade. As queimadas na Amazônia e Pantanal, o vazamento de óleo no Atlântico, a crise hidrológica e, evidentemente, a pandemia, têm algo em comum na reação do governo federal: todos os seus esforços se deram no sentido de não serem obrigados a agir e de colocarem a culpa em alguém.

Isto reflete um padrão de comportamento do Bolsonaro, que é, não o da destruição ativa, mas o de abrir as portas para a destruição feita por terceiros — que sejam seus aliados ou apoiadores é, para ele, um detalhe. Por isso estes apoiadores sempre respondem as críticas à sua inação com argumentos como “agora vão dizer que ele é o culpado de não chover!” ou “o STF impediu ele de agir”. Na verdade, ele é capaz de ir muito longe para impedir que o obriguem a agir, como comprovam as manobras infames sobre a vacinação infantil, coisa que ocorre desde sempre (a marca no braço é um distintivo da minha geração) e de repente se tornou perigo de morte…

Então, a estratégia consiste em nada fazer, para que as coisas sejam destruídas sem que ele possa ser responsabilizado diretamente — ou tenha ao menos uma tosca linha de defesa quando o for. Isto vale tanto para as tragédias ambientais quanto para todo o resto: a condução econômica baseada em nada fazer porque o mercado se auto-regula, a não manutenção dos sites do governo redundando em uma séria de ataques de hacker (o do DataSUS foi só o último. Tesouro Nacional, CGU, Polícia Rodoviária Federal, todos já foram hackeados.) Em todos os cantos da administração, o que se vê é a inação ativa, permitindo cumplicemente ataques externos ou apenas assistindo o desmoronar de estruturas que precisavam de manutenção.

É por esta linha de inação que se torna evidente que qualquer esforço do governo para recuperar popularidade hoje será inútil, simplesmente porque ele não sabe como fazer, ao contrário, a maior parte da população já se deu conta deste modus inoperandi e cansou de livrar sua cara com desculpas enquanto sofre as consequências.

Já vi analistas políticos apostando na “Crivelização” do Bolsonaro, que aconteça com ele o que ocorreu com o Crivella no Rio ano passado — chegou capengando ao segundo turno apenas devido à divisão da esquerda, e levou uma sova no segundo, mantendo uma base de fanáticos muito reduzida e sem voz ativa. Acho uma boa aposta. Sim, faltam 10 meses. Mas quem considera o risco de uma mudança de cenário desconsidera a capacidade de Bolsonaro de não fazer nada. O crescimento econômico inexiste, até mesmo o subemprego uberizado se tornou quase impossível, a inflação segue subindo, e como se não bastasse, o ômicrom está chegando e só terá seu efeito minorado graças à vacina que Bolsonaro combateu o quanto pôde.

Em suma, qualquer balanço na canoa não será contrabalançado pelo governo e a população, já de saco cheio, o culpará. Este será 2022. Portanto, amigo, aguentemos firme, porque a derrocada do fascismo se avizinha. E, na impossibilidade de adiantá-lo, feliz 2023.

Sign up to discover human stories that deepen your understanding of the world.

Free

Distraction-free reading. No ads.

Organize your knowledge with lists and highlights.

Tell your story. Find your audience.

Membership

Read member-only stories

Support writers you read most

Earn money for your writing

Listen to audio narrations

Read offline with the Medium app

--

--

Túlio Ceci Villaça
Túlio Ceci Villaça

No responses yet

Write a response