As quatro milícias do regime

Túlio Ceci Villaça
3 min readFeb 11, 2019

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São quatro, até próxima contagem, as milícias atuantes no jogo de forças que rege nosso governo, todas relacionadas entre si. Há uma quinta ainda, a neoliberal, mas esta tem uma caracterização diferente, que é atuar pelo estabilishment. As demais atuam à sua margem, e são responsáveis pela atual ascenção do fascismo. São elas: as propriamente ditas, militares e para-militares; as de achaques/conluios com assessores/candidatos; as de hackers, haters e difusores de mentiras nas redes sociais; e as de pseudo-intelectuais de destruição do pensamento. Vamos uma a uma e suas interrelações.

1- de Milícias propriamente ditas, militares e para-militares: São as que dominaram o Rio de Janeiro, com o beneplácito de governantes e a falência das UPPs. São as que mataram Marielle (conexão com o número 2). São netas do Regime Militar e filhas da Polícia Militar, em seus métodos e filosofia. São abertamente defendidas pelo presidente e seus filhos. São o braço armado do reacionarismo, beneficiadas pelo decreto de mais armas e pelo perdão de assassinatos da polícia por violenta emoção, pois estão enraizadas na própria polícia. Criadas para substituir o Estado, agora são também o Estado, autorizadas filosoficamente por um presidente que aprova a tortura e o assassinato e considera a ameça física um instrumento do jogo político, desde que feito por seguidores e não por ele,

2- de achaques/conluios com assessores/candidatos: São a corrupção mesquinha dos atuais donos do poder, as formas de engrossarem seus salários empregando gente que não trabalha, mas também premiando milicianos (conexão com o número 1) e responsáveis pela difusão de mentiras na campanha (conexão com o número 3). São também a forma de manipular a verba pública de campanha com candidatos falsos. São os laranjas que escondem o patrimônio da família e servem de intermediários para quando os trabalhos sujos são necessários, em casos que se multiplicam. É por eles que o dinheiro passa de uns para outros, das redes sociais para os milicianos e políticos, e vice-versa.

3- de hackers, haters e difusores de mentiras nas redes sociais: São os autores da rede de comunicação subterrânea com pontas no exterior que determinou a eleição do presidente e vários governadores e senadores por meio da difusão de fakenews em massa e roubo de dados. São também os que invadiram seguidamente sites e comunidades de esquerda, como a Mulheres contra o Coiso. Alguns tornaram-se assessores (conexão com o número 2), outros podem não se limitar à Internet (conexão com o número 1), e muitos são difusores da destruição do pensamento e anti-cientificismo desqualificante (conexão com o número 4), sendo municiados por eles. Continuam em plena atividade depois da eleição, tentando impedir que o pensamento da população se fixe na realidade e ameaçando pessoas com Jean Wyllys e Anderson França (conexão com número 1), forçando-os a deixar o país como novos exilados.

4- de pseudo-intelectuais de destruição do pensamento: São os que tratam de justificar as ações acima com base em desqualificações e relativizações generalizadas, tentativas de assassinato de reputação e difusão de fake news (conexão com número 3), na forma de informações históricas erradas e deturpação de teorias filosóficas. Comandados do exterior, eles se opõem ao pensamento científico em geral, aproximam-se do pensamento medieval e fundamentalismo religioso, que consideram justificativa para qualquer atitude, como nas Cruzadas. São a fonte inicial da criação de noções absurdas de criminalização dos oponentes políticos que ganharam a população com a ajuda dos meios de comunicação inicialmente, até saírem do controle destes e passarem a se opor a eles próprios. Estabeleceram uma rede própria (conexão com número 3) que se retroalimenta e replica zumbis. Fundamente enraizados no governo, mesmo que seu líder de vez em quando esbraveje.

Estas quatro milícias são organizadas internamente e entre si na forma de redes próprias, as vezes sem um líder claro (exceção à última). Entender esta arquitetura e suas articulações é fundamental para combater o fascismo que elas promovem e que agora tem um representante simbólico no poder. Estudemos estas redes, e façamos as nossas, de outro quilate, para combatê-las.

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